Leia o texto abaixo escrito pelo engenheiro Haylton Santos, 48 anos e pai de três filhas, a pedido da revista "Pais e Filhos" sobre o assunto "Body piercing: você deixaria seu filho usar?":
"Não"
O uso do piercing me passa a ideia do “ter que ter”, do ter que usar “porque minha tribo está usando”. Algo como a caneta Montblanc para os executivos.
Mesmo pensando na questão por um ângulo puramente estético, o piercing não me agrada. Eu ainda prefiro, por exemplo, os inúmeros aros no pescoço das africanas, ou os ossos e argolas dos poucos índios que nos restam. Além de me parecerem mais consistentes em sua beleza particular, tais enfeites têm significado cultural que ultrapassa uma fase de vida.
Sabemos que as nossas tribos adolescentes não duram mais que alguns anos e que cada indivíduo deverá se inserir em muitas outras “tribos” ao longo de sua vida. As cicatrizes permanentes que os fetiches adolescentes dos últimos tempos têm acarretado (tatuagens, piercings ou cicatrizações) aumentam a responsabilidade dos adultos, no sentido de reforçar no jovem a informação e o compromisso consciente com suas escolhas, além do imediato e dos modismos, mesmo que seja um simples piercing ( simples mesmo?). Tais escolhas passam também pelas questões relativas à saúde, hoje cada vez mais entendida como um valor cultural. Também me parece que, além de deixar uma marca indelével, o piercing – dependendo do lugar em que for colocado – não é propriamente higiênico.
Alguns entendem o uso de enfeites perfurando o corpo como manifestação do antagonismo próprio do adolescente, questionamento ou crítica à sociedade, ou tentativa de chocar. Para mim, isso carece de solidez: tem mais jeito de regras e normas, ou apego exagerado ao modismo. O espírito transformador e crítico é a colaboração mais rica que a juventude tem para dar à sociedade. Sociedade que pede, hoje, atitudes prioritárias em relação à AIDS, às drogas e à responsabilidade social, por parte de jovens mais autônomos e mais conscientes.
Afinal... eu não gostaria que minhas filhas usassem piercings, porque é um símbolo que definitivamente não me atrai. Mas como essa é uma opinião pessoal, se alguma delas insistir em pendurá-los pelo corpo, eu de minha parte vou continuar usando minha caneta Bic, ou outra qualquer que estiver à mão.
(Haylton Santos. Revista Pais e Filhos)
# Exercícios:
1. Ao comparar o uso de piercing entre jovens ao uso da caneta Montblanc entre os executivos, o que significa para o autor do texto o uso de piercing?
2. Depois de apresentar seu ponto de vista, o autor procura fundamentá-lo com argumentos. Para isso, ele cria três parágrafos de desenvolvimento das ideias e, em cada um, aborda um aspecto. No 2º parágrafo, por exemplo, o autor trata dos piercings do ponto de vista estético. Qual é a opinião dele?
3. No 3º parágrafo, o autor vê dois tipos de perigo que envolvem o uso de piercing. Quais são eles?
4. Há quem compreenda o uso de piercing como uma forma de a juventude expressar sua rebeldia contra os valores sociais. Teria o mesmo valor que tinham os cabelos compridos para os jovens dos anos 60, por exemplo:
a) O autor concorda com esse ponto de vista?
b) Para ele, como o jovem poderia demonstrar de forma mais consciente seu desejo de transformação social?
5. Em textos argumentativos, é comum haver a conclusão, isto é, o fechamento das ideias do texto. Nela, geralmente o autor confirma seu ponto de vista. Observe o último parágrafo do texto.
a) O autor confirma nele sua opinião sobre o piercing, defendida no 1º parágrafo?
b) Mesmo defendendo seu ponto de vista, ele se mostra autoritário ou liberal em relação às opções das filhas?
6. Observe o tipo de linguagem empregada pelo autor.
a) Emprega-se a variedade padrão ou a variedade não padrão?
b) Considerando que o texto foi escrito para uma revista lida por jovens, pais, psicólogos e educadores, você considera a linguagem adequada? Por quê?