quarta-feira, 9 de junho de 2021

Atividade sobre Romantismo a partir de trechos do poema "O Navio Negreiro", de Castro Alves



Você vai ler, a seguir, um trecho da 5ª parte de "O navio negreiro - Tragédia no mar", um dos poemas da obra Os escravos, de Castro Alves. Nesse poema, publicado pela primeira vez em 1868, o poeta retrata o transporte de negros escravos ao Brasil, prática comercial proibida em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós.

V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados,
Que não encontram em vós,
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são?... Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa musa,
Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto
Onde a terra esposa a luz,
Onde voa em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados,
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão...
Homens simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos
Sem luz, sem ar, sem razão...

São mulheres desgraçadas
Como Agar o foi também,
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma - lágrimas de fel.
Como Agar sofrendo tanto
Que nem o leite do pranto
Têm que dar para Ismael...
[...]

Ontem a Serra Leoa
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão...
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade
Nem são livres p'ra... morrer...
Prende-os a mesma corrente
- Férrea, lúgubre serpente -
Nas roscas da escravidão,
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite... Irrisão!...

1. O eu lírico de um poema pode-se dirigir a alguém ou a algo que esteja presente ou ausente, que seja animado ou inanimado, concreto ou abstrato, para exprimir lamentos, pedidos, censuras. Esse recurso retórico é uma figura de linguagem, chamada apóstrofe.
a. Identifique as apóstrofes empregadas nas duas primeiras estrofes do poema.

b. Nessas duas estrofes, que pedidos o eu lírico faz aos seus interlocutores?

c. Que efeito o emprego das apóstrofes produz no texto?

2. A partir da terceira estrofe, há uma mudança de voz no poema.
a. De quem é essa voz?

b. Que informações essa nova voz introduz no poema? Justifique sua resposta com elementos do texto.

3. Na terceira estrofe, há o retrato dos escravos negros.
a. Nessa estrofe, o poeta associa a ideia de liberdade a imagens que evocam luminosidade e movimento. Que palavras ou expressões sugerem luminosidade? Quais sugerem movimento?

b. No último verso dessa estrofe, o poeta emprega uma gradação. Que efeito de sentido o uso dessa figura de linguagem produz no texto?

c. Nessa gradação, aparece a expressão sem razão. De acordo com o contexto, que sentidos podem ser atribuídos a essa expressão?

4. Na quarta estrofe, o poeta emprega, para retratar a figura da escrava negra, simultaneamente, uma comparação e uma hipérbole.
a. Identifique e explique tais figuras de linguagem nessa estrofe.

b. Que efeito de sentido a hipérbole produz no texto?

5. Para retratar o navio negreiro, o poeta cria também imagens que associam, simultaneamente, movimento e sonoridade.
a. Identifique na quinta estrofe palavras ou expressões que representam tais imagens.

b. O que a "dança", na sexta estrofe, representa?

c. Quem são os autores da "irrisão"? Explique.

6. O poeta produziu esse poema em um momento em que não havia mais o tráfico negreiro, mas a escravidão ainda vigorava. Com base no estudo realizado, conclua: Que estratégias o poeta utiliza para convencer seu ouvinte/leitor de que a escravidão devia ser extinta?


Fonte: Português Contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso

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