terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O certo é “biscoito” ou “bolacha”? (Variedade linguística / etimologia)



Ambos são corretos, mas “biscoito” entrou primeiro na língua portuguesa, e esse é o único critério em que é possível apontar um vencedor. Os dois termos são equivalentes no que diz respeito à legislação e também são ambos válidos quando se aplica sua etimologia ao modo que o alimento é produzido hoje no Brasil. O país é atualmente o segundo maior produtor de biscoitos/bolachas do mundo, com 1,2 mil tonelada fabricada por ano, segundo a Associação Nacional da Indústria de Biscoitos (Anib). Também segundo o órgão, o produto está presente em 99,9% dos lares brasileiros e a média adquirida pelas pessoas em cada visita ao mercado é de 700 g.

DUELO DE TITÃS
O resultado definitivo da briga mais famosa da Internet

Round 1: Etimologia do biscoito
“Biscoito” vem do latim bis (duas vezes) + coctus (cozido) e chegou ao português pela palavra francesa “bescuit”, que surgiu no século 12. O nome vem da prática de assar o alimento duas vezes para que ficasse menos úmido e durasse mais sem estragar. A prática de assar mais de uma vez se aplica à bolacha (biscoito recheado) dos dias de hoje, porque ela vai ao forno quatro vezes

Round 2: Etimologia da bolacha
“Bolacha” vem de “bolo” (do latim “bulla”, objeto esférico) com o sufixo “acha”, que indica diminutivo. A palavra holandesa “koekje” significa a mesma coisa e gerou termos como “cookie” e “cracker”. Para diferenciar dos biscoitos, convencionou-se que koekje e derivados são os que utilizam um componente levantador, como o fermento. Os produtos brasileiros utilizam, então podemos chamar de bolachas

Round 3: Legislação
Quem regula o produto é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que considera os dois termos como sinônimos. Eles são definidos como: “produto obtido pelo amassamento e cozimento conveniente de massa preparada com farinhas, amidos, féculas fermentadas, ou não, e outras substâncias alimentícias”. E, sim, o órgão leva em consideração as variações com cobertura e recheio e diz que é mesmo tudo igual

Round 4: Inserção na língua portuguesa
O desempate vem do fato de que as duas palavras entraram na língua portuguesa em momentos diferentes. O registro mais antigo que a reportagem encontrou para “bolacha” é de 1543. Já para “biscoito”, o registro encontrado é de 1317, ainda na forma “bíscoyto”. Há quem diga, porém, que “biscoito” só entrou no português no século 15 – ainda assim, décadas antes de “bolacha”


Fonte: Victor Bianchin, in site "Mundo Estranho"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Atividade sobre Variação Linguística e Intencionalidade


Leia o texto 01 e faça as questões 1, 2 e 3.

TEXTO 01
Conversinha Mineira

-- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
-- Sei dizer não senhor: não tomo café.
-- Você é dono do café, não sabe dizer?
-- Ninguém tem reclamado dele não senhor.
-- Então me dá café com leite, pão e manteiga.
-- Café com leite só se for sem leite.
-- Não tem leite?
-- Hoje, não senhor.
-- Por que hoje não?
-- Porque hoje o leiteiro não veio.
-- Ontem ele veio?
-- Ontem não.
-- Quando é que ele vem?
-- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes, não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.
-- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!
-- Ah, isso está, sim senhor.
-- Quando é que tem leite?
-- Quando o leiteiro vem.
-- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
-- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
-- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?
-- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
-- E há quanto tempo o senhor mora aqui?
-- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.
-- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
-- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
-- Para que Partido?
-- Para todos os Partidos, parece.
-- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
-- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
-- E o Prefeito?
-- Que é que tem o Prefeito?
-- Que tal o Prefeito daqui?
-- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
-- Que é que falam dele?
-- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
-- Você, certamente, já tem candidato.
-- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
-- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
-- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
Texto extraído do livro A Mulher do Vizinho, Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1962, pág. 144.

1. Após a leitura do texto Conversinha Mineira, pode-se afirmar que o autor traça um perfil do mineiro. Assinale a alternativa que determina qual seria esse perfil.

O mineiro é

a) um sujeito astucioso, prefere não dizer algo que o comprometa ou que possa ser interpretado como uma tomada de posição.
b) cara folgado, indolente, evitando a todo custo tomar uma posição, pois isso pode lhe dar trabalho e vir a interromper o seu sossego.
c) homem ingênuo, de boa fé, facilmente enganado pelos fregueses espertalhões e políticos ladinos, pois fala muito e adora uma fofoca.
d) cara pacato, pacífico, que desencoraja qualquer intenção de briga ou discussão, pois não permite que lhe façam qualquer pergunta.

2. Pode-se AFIRMAR que o dono da leiteria se encaixa perfeitamente na expressão “como bom mineiro que é...”, pois respondeu a quase todas as perguntas de modo

a) provocante.
b) desonesto.
c) objetivo.
d) evasivo.

3. Em relação à linguagem do texto, podemos afirmar que

a) a diferença de linguagem entre os interlocutores se dá por serem de diferentes países.
b) a linguagem do dono da leiteria denuncia sua ignorância e sua falta de estudo.
c) a diferença de linguagem entre os interlocutores não os impede de estabelecer um diálogo.
d) a linguagem de ambos é inadequada para a situação em que se encontram.

Fonte: Professor Warles

'Perdi a vergonha': aos 42 anos, catadora de lixo aprende a ler com filho



"Mãe, mãe, quer ler comigo? É uma historinha. E tem figuras". "Desmaiada" em uma rede após horas garimpando lixo na rua, para vender, foi assim - aos sussurros de Damião Sandriano de Andrade Regio, 11, o mais novo dos sete filhos - que Sandra Maria de Andrade, 42, começou a decifrar as letras do alfabeto e a despertar para o mundo da leitura.

Até um ano atrás, não sabia ler nem escrever. Em uma casa encravada numa rua de areia em Jardim Progresso, periferia de Natal, no Rio Grande do Norte, ela era o retrato dos 758 milhões de adultos no mundo apontados em um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na semana passada, como incapazes de ler ou escrever uma simples frase.

Sandra não sabia fazer nem o próprio nome. "Espiava" quem visse lendo um livro e pensava "ah, se eu soubesse também. Se tivesse uma coisa que eu pudesse roubar, queria que fosse um pouquinho daquela leitura". Ela tentou estudar, mas não pôde.

Foi forçada a trabalhar desde cedo. Abandonada pela mãe aos três anos, diz que a avó, com quem passou a morar, lhe entregou a um casal que a impediu de ir à escola. Ela teve de trabalhar na lavoura, em casas de farinha (locais em que mandioca é ralada ou triturada) e fazendo faxina.

Em um dia, quando ajudava no cultivo de bananeiras, viu crianças passando na porta com cadernos debaixo do braço. "Queria ir para onde iam, mas diziam: vá trabalhar. E eu chorava". Aos 12 anos, na tentativa de reencontrar a mãe, fugiu. Foi rejeitada. Passou a viver nas ruas e a comer o que achava no lixo.
Um homem lhe ofereceu casa e comida quando tinha 13 anos. Viveram como marido e mulher, tiveram três filhos e uma história que, para Sandra, significou "levar tanta porrada", a ponto de achar que estava morta. Em 12 de junho de 1996, na frente dos filhos, foi golpeada várias vezes com uma faca, teve parte dos cabelos arrancados com os dentes e, já se sentindo dormente depois de tanta dor, chegou a dizer a uma das crianças: "Com fé em Deus, se sua mãe escapar macho nenhum bate mais nela". No dia seguinte, fugiu levando os três filhos.

"Me perguntavam na rua se eu tinha sido atropelada e mandavam eu dar parte dele. Mas eu não tinha instrução, não tinha ninguém pra me apoiar. Meu negócio era sair dali". A ideia de Sandra era "enfrentar o mundo".

A vida sem ler
Mas o mundo, quando tinha letras estampadas, "era como uma folha em branco" que dificultava até a hora de pegar um ônibus. Em busca de ajuda, ela precisava confidenciar a quem cruzasse o seu caminho: "Eu não sei ler". E pedia: "Você pode ler pra mim?".

Mas, sofrimento maior foi, anos depois, fazer a carteira de identidade e ter de estampar no documento a impressão digital em vez da assinatura. Fruto de um segundo casamento e com aproximadamente três anos de idade, Damião, ouvindo a mãe mensurar o tamanho da vergonha, "muito grande", fez um pacto com ela naquele dia: "Eu vou aprender e, quando aprender, vou ensinar à senhora".

A mãe já catava lixo para vender à reciclagem e a outros compradores que batem à porta. A essa altura, não sabia o que era carteira assinada, estava separada do segundo marido e carregava a tristeza de ter enterrado quatro dos sete filhos - todos ainda na infância, vítimas de doenças que acha difícil explicar, e uma das filhas após um atropelamento.

Ver Damião ir e voltar da escola era um dos momentos de alegria. Cada dia que o filho chegava, contava a ela, "já morta de cansaço", tudo o que havia lido e aprendido. Ela se orgulhava: "Ele vai ser o que eu queria ser".

Damião também tinha o estímulo da professora. Ela dava aulas de reforço e o incentivava a pegar livros na escola. "Foi com esses livrinhos que tudo foi se desenganchando" para Sandra. "Eu tomava banho, deitava na rede, ele vinha e me chamava pra ler. Eu queria ver os desenhos, mas também queria aprender as letras. Ficava curiosa".

O mais próximo que ela havia chegado da escola foi em uma turma de jovens e adultos em que aprendeu o "ABC", mas que acabou abandonando por não parar de ter dúvidas e travar sempre que chegava no "e", letra que traduz como "uma agonia de vida". Ela ficava "apavorada" por não saber. "Sentia revolta".

Damião desvendou o "e" para a mãe explicando que era o mesmo que um "i", só que fechado e sem o ponto. O "h" virou uma cadeirinha" e o R o mesmo que um B, só que "aberto". Ele começou a ensinar as letras do nome dele e as letras do nome dela. Até Sandra aprender a escrever.

"Quando eu aprendi, disse: vou fazer outra identidade que é pra quando chegar nos cantos eu dizer: eu sei fazer meu nome. Pra mim, já era tudo eu saber. Chegar lá, o povo dizer assine aqui e eu dizer: agora eu já sei, não sinto mais vergonha".

Escrever o próprio nome foi uma conquista. A palavra "mãe" também. Em uma reunião da escola, "morreu de felicidade" ao assinar a primeira vez como responsável da criança. "Tinha que escrever o que eu era dele. Eu escrevi mãe, caprichado, bem grande".

Damião, devotado à mãe, quer ir além. "Eu quero ver ela aprendendo comigo. Quero que aprenda as palavras que ela sente aqui dentro. Ela gosta de falar amor, paixão. Já sabe um monte de palavras. Ela sabe as mais simples".

Leitura
Mãe e filho leram, juntos, 107 livros em 2016, se considerados apenas os contabilizados na escola. A lista, porém, fica maior se incluir outros títulos que Sandra encontrou no lixo. O preferido dela, faz questão de dizer, "é Ninguém nasce genial". "Escrevi meu nome nele. Porque ninguém nasce gênio. Porque eu achava que não precisava mais saber, achava que era tarde pra saber".

Para Damião, outro livro foi mais impactante. Tratava da história de um anjo que vivia acorrentado e só conseguiu se libertar quando ensinou um ser humano a rezar e os dois viraram amigos.

"É tipo eu e minha mãe. Eu estou ensinando uma coisa a ela e ela me ensina outra. Eu era novinho, ela me cuidava, eu cuidava dela. Ela dava um abraço em mim eu dava dois. Foi assim que nós começamos a nos amar".

O menino também leu sobre aventuras, amizade, paixão e amor ao próximo.

Nesses momentos, diz que "vai pra outro mundo". Que fica com "uma imaginação infinita".

"Eu quero que a leitura me leve pra qualquer canto", diz. Neste ano, irá para o 6º ano na escola.

Na casa onde divide cada palavra que aprende com a mãe, a ajudou a escrever, na parede da frente, uma mensagem em letras verdes, maiúsculas: CANTINHO DA FELICIDADE ONDE HÁ DEUS NADA FALTARÁ".

Fonte: BBC Brasil

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Atividade sobre o gênero textual "Panfleto"


# Assunto: "Panfleto"

Panfleto é um meio de divulgação de uma ideia ou marca, feito de papel. Tem como objetivo atingir grande público.

Exemplos: publicidade de um produto, propaganda política, campanha de alerta ou cuidados com a saúde.

# Leia o panfleto de um colégio público:

1. Sobre o que está sendo panfletado?

2. O nível de linguagem empregado (formal ou informal) está adequado? Por quê?

3. Qual a linguagem utilizada (verbal, visual ou mista)? Por quê?

4. Qual é o público alvo deste panfleto?

5. Que informações importantes foram usadas neste panfleto?

6. Na sua opinião, o panfleto analisado cumpre o seu objetivo? Justifique sua resposta.  

# Produção textual:
Elabore o esboço (rascunho) de um panfleto para divulgar um produto real ou imaginário.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Aula sobre o gênero textual Manifesto - Texto "Manifesto contra a violência doméstica"


# Aula: Manifesto

* Manifesto é uma declaração pública que gira em torno de um posicionamento, com a finalidade de denunciar, alertar e propor mudanças à sociedade sobre algum problema.

Estrutura de um manifesto: Título; desenvolvimento do texto; local, data e assinatura.

# Leia o manifesto abaixo:

Manifesto contra a violência doméstica

Nós mulheres exigimos que a Justiça atue melhor, mais rapidamente, com transparência e protegendo efetivamente as cidadãs de situações de risco. Entre 2009 e 2011, mais de 17 mil mulheres foram mortas pelas mãos dos seus maridos, companheiros, namorados e ex. A casa não pode ser um espaço de medo e opressão, bem como as relações e os laços familiares. Queremos viver livres e amar sem submissões, controle ou violência. Não somos de ninguém, somos donas da nossa própria vida.

24 de novembro de 2012

Associação de Mulheres contra a violência (AMCV)

Exercícios:
1. Qual a finalidade do manifesto lido?

2. Quem são os interlocutores desse manifesto?

3. Qual a tipologia textual predominante? Narração, descrição ou argumentação? Por quê?

4. Elabore um manifesto sobre um dos temas sugeridos abaixo:
a) manifesto contra a violência nas ruas
b) manifesto de combate à dengue
c) manifesto contra o preconceito
d) manifesto contra o desmatamento

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Aula sobre Classificação do Sujeito e do Predicado (atividades)


# Estrutura da frase (Parte II)

# Classificação do sujeito
a) Sujeito simples - tem apenas um núcleo
"O aluno fez o dever"

b) Sujeito composto - há dois ou mais núcleos.
"O aluno e a professora fizeram o dever".

c) Sujeito implícito (oculto) - não está explícito, mas pode ser identificado.
"Fizemos o dever." (Nós)

d) Sujeito indeterminado - existe, mas não se pode determinar.
"Fizeram o dever"

e) Oração sem sujeito - verbos que exprimem fenômeno da natureza / verbos indicando tempo.
"Chove muito" / "Faz tempo que não chove"

# Exercício:
1. Elabore uma frase (para cada classificação do sujeito) sobre o tema "cuidados com a dengue".
a) Simples
b) Composto
c) Implícito
d) Indeterminado
e) Oração sem sujeito

# Classificação do predicado
a) Predicado verbal - Indica ação; tem um verbo como núcleo.
Ex.:  "O aluno fez o dever."

b) Predicado Nominal - Indica estado; possui um nome (substantivo ou adjetivo) como núcleo;
Ex.: "O aluno é estudioso".
   
     # Exercício:
1. Elabore uma frase (para cada classificação do predicado) sobre o tema "sexo seguro".
a) verbal

b) nominal

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Aula sobre Estrutura da Frase (sujeito e predicado)


# Assunto: Estrutura da Frase

* Frase é uma construção com sentido completo. É limitada por um ponto.
Ex.: "O aluno estuda."  / "Chegamos?" / "Estou muito feliz!"

# Exercício:
1. Escreva um pequeno texto contendo 3 frases sobre quais os seus planos após concluir o Ensino Médio.

* A Frase, geralmente, é composta por sujeito e predicado.

* O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em número e pessoa.
Ex.: "O aluno estuda." / "Ele chegou." /

* O predicado é a parte da frase que contém "a informação nova para o ouvinte" e, normalmente, refere-se ao sujeito.
Ex.: "O aluno estuda".

# Exercícios:
2. Identifique o sujeito das frases abaixo:
a) Os alunos e as professoras subiram para as salas de aula.
b) As testemunhas foram ouvidas.
c) Nas férias, pintaram as salas de aula.
d) Olhamos todos os livros da biblioteca.
e) Choveu durante toda a noite.

3. Crie um predicado para cada sujeito abaixo:
a) Os deveres de aula
b) O carnaval
c) Nós
d) Os homens e as mulheres
e) O preconceito

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Como e Por Que Ler para um Bebê?



Muitos pais perguntam quando devem começar a ler em voz alta para os filhos. Em geral, eles têm consciência da importância de estimular a leitura desde cedo. Mas muitas vezes não sabem como fazê-lo, não têm noção da quantidade de benefícios que essa prática pode proporcionar e possuem ainda alguns questionamentos que pretendo responder aqui.

Ler para um bebê na barriga da mãe não é uma tremenda perda de tempo?

Por volta do terceiro trimestre de gestação os bebês já são sensíveis a sons, inclusive à voz das mães. Experimentos demonstraram que recém-nascidos são capazes de reconhecer histórias que ouviram muitas vezes quando estavam no útero. A exposição a elas provocava a diminuição da freqüência cardíaca nos bebês, o que sugere que ouvir as histórias os deixava mais tranqüilos e concentrados – algo similar acontece com a música. Por isso, é recomendável que os pais leiam para bebês que ainda estão no ventre materno, sobretudo a partir do momento em que começam a ouvir a voz da mãe (por volta da  22a semana de gestação).

Se o bebê ainda não fala, por que ler para ele?

Após o nascimento do bebê, a leitura em voz alta proporciona uma série de benefícios:

– Estreitamento da relação afetiva entre pais e filho.

– Desenvolvimento da compreensão auditiva, determinante para a futura compreensão de textos.

– Treinamento da memória auditiva de curto prazo.

– Enriquecimento do vocabulário e contato com frases mais extensas e estruturas sintáticas menos comuns na linguagem oral. Livros sem palavras ou com uma linguagem muito prosaica obviamente não proporcionam esses benefícios.

– Entendimento gradual de que a palavra escrita representa a palavra falada, fator determinante para um posterior sucesso em leitura.

– Aquisição do gosto pelos livros e pela leitura. Para tanto, é importante não só que os pais leiam para os filhos, como também que os filhos vejam os pais lendo sozinhos.

Além disso, crianças expostas à leitura desde cedo tendem a ter um melhor desempenho em leitura e compreensão de textos no Ensino Fundamental.

Lembro que esses benefícios dependem muito da freqüência da leitura, da qualidade da interação verbal realizada e, de maneira geral, da forma como os pais realizam a leitura.

Como ler para bebês com menos de 1 ano?

Ao ler para um bebê com menos de 1 ano, interaja verbalmente com ele. Leia um trecho da história, apontando para as ilustrações. Mantenha tanto quanto possível o contato visual. Gestos e modulações da voz também são boas estratégias para chamar a atenção. Observe que ele responderá à leitura com um contato visual, movimentando o corpo ou balbuciando algo: é assim que os bebês “conversam”. Isso também é uma prova de que estão atentos, embora ainda não sejam capazes de responder com palavras.

Não tenha pressa: se seu filho se interessar por uma ilustração, deixe que ele a aprecie. Também é fundamental ler pausadamente, enunciando de maneira clara cada palavra.

A voz materna é especialmente atraente para o bebê, portanto é bom que a mãe leia para o filho. E os pais podem trazer para a leitura algumas características da “fala materna”, que empregam naturalmente em suas “conversas” com os bebês: aumentar o volume da voz, falar mais lentamente e pronunciar as palavras com mais clareza, para que os bebês escutem melhor; destacar e prolongar as vogais, facilitando a percepção dos padrões lingüísticos; usar um registro mais agudo da voz; falar de maneira melodiosa e carinhosa. Essa forma particular de os adultos se dirigirem ao bebê também tem um impacto emocional positivo.

Mas meu bebê não fica quieto…

Não pense que seu bebê se manterá imóvel e em silêncio enquanto você lê para ele. Bebês costumam mexer-se bastante e às vezes respondem à estimulação verbal com o corpo. Isso é normal e não significa que eles não estejam prestando atenção!

Durante a leitura em voz alta, se o bebê quiser manipular o livro, deixe-o fazê-lo por algum tempo e depois retome a leitura. Ele aprenderá pouco a pouco a manusear um livro, a passar as páginas, a segurá-lo corretamente, a apreciar as imagens… Manipular livros cria familiaridade com eles, além de desenvolver um apreço precoce por esses objetos que os bebês ainda não são capazes de explorar por si sós de outra forma.

A partir dos 6 meses, um bebê é capaz de manusear livros cartonados, de pano ou plástico, mas em geral leva-os imediatamente à boca. Se seu filho se mostrar um “leitor” demasiado voraz, buscando tomar o livro para si o tempo todo, uma opção é dar a ele um objeto para manipular enquanto você lê. Embora brincando com o objeto, ele estará absorvendo o que escuta. Os bebês têm muita dificuldade para se fazer entender – já que ainda não conseguem falar –, porém são incrivelmente capazes de absorver o que lhes dizem.

Para evitar que o bebê fique muito agitado durante a leitura, escolha um ambiente silencioso e sem muitas distrações. Estabelecer um horário fixo do dia para ler também pode ajudar: eles se sentirão mais seguros e tranqüilos se a leitura fizer parte da rotina. Fazendo isso, você também estará promovendo o desenvolvimento do hábito de leitura.

Será que ele entende alguma coisa?

Os bebês só começam realmente a compreender algo do que é lido por volta dos 6 meses, quando passam a entender que uma palavra ouvida pode representar um objeto, uma pessoa ou um fato. Reconhecem primeiramente palavras com que têm contato mais freqüente, como “mamãe”, “papai”, “irmão”, “leite”, “mamadeira”, “papinha”, “água” e “berço”.

Aos 10 meses, os bebês já conseguem entender cerca de 40 palavras, número relativamente alto. E muitos são capazes de compreender frases de até 3 palavras. Na fase do balbucio, os bebês conseguem entender muitas das palavras que escutam, embora não as consigam pronunciar.

Porém, ao ler para um bebê de menos de 1 ano, fazer com que ele compreenda o texto não é o objetivo principal da leitura!

Como escolher o livro?

Para crianças de até 18 meses são indicados os livros cartonados, de pano ou de plástico, não só porque resistem ao instinto de levar tudo à boca e às investidas das mãozinhas, mas também por serem mais fáceis de manusear. Uma criança de 18 meses, por exemplo, ainda não é capaz de folhear um livro com páginas de papel de baixa gramatura, mas pode fazê-lo tranqüilamente com um livro cartonado. Para facilitar o manuseio, opte por livros pequenos.

Dos 6 aos 18 meses, livros com texturas, figuras coloridas, ilustrações de animais e objetos despertam bastante a atenção dos bebês. Livros com fotos de bebês são especialmente fascinantes e podem ser usados para a ampliação do vocabulário de escuta. Nomeie para seu filho cada parte do rosto dos bebês (nariz, boca, olhos, testa, queixo etc.) e aponte a seguir a parte correspondente no rosto dele. Diga, por exemplo: “Veja o nariz do bebê. Você também tem um nariz. Veja os olhos do bebê. Você também tem olhos”.

Ouvir os pais nomeando objetos que ele reconhece ajuda o bebê a aumentar seu vocabulário e a entender que ilustrações representam coisas reais. Nomeie um objeto na ilustração e aponte para a imagem. À medida que ele for aprendendo a falar, passe a apontar para as imagens e pedir que ele mesmo nomeie os objetos. Você também pode usar um livro com figuras de animais e perguntar, por exemplo, “Como é que o cachorro faz? Como é que a vaca faz?”.

Dos 18 meses em diante, opte por textos rimados (poesias, parlendas e letras de canções folclóricas) e ricos em repetições. Narrativas rimadas, fábulas em versos e histórias acumulativas costumam agradar os pequeninos, além de serem memorizadas com certa facilidade. Invista ainda em livros com muitas ilustrações atraentes e belas, possibilitando as práticas da nomeação (apontar um objeto ou cena e dizer o que é – ou pedir que a criança o faça), descrição de cenas e objetos e construção de enredos a partir das imagens. Com suas próprias palavras, crianças de 2 anos já começam a completar trechos familiares de suas histórias favoritas, mesmo sem que você as estimule a fazê-lo.

E por que não ler para seu bebezinho trechos de grandes clássicos da literatura vez ou outra? Mas não caia na tentação de adaptar por conta própria a linguagem desses clássicos por julgá-la muito difícil para crianças tão pequenas. Os grandes autores são grandes exatamente por seu modo singular de trabalhar com a linguagem! A escuta da poesia, em especial, tem a propriedade de aguçar a sensibilidade para sons e padrões rítmicos, como lembrou o poeta Érico Nogueira em entrevista para o blog – ele recita poesias em vários idiomas para os filhos desde que estavam na barriga da mãe e tem obtido ótimos resultados.

Enfim, você pode e deve partilhar leituras com seus filhos desde cedo, cuidando que a leitura seja algo habitual e prazeroso e o livro algo íntimo e sempre presente.

Fonte: Carlos Nadalim