domingo, 6 de junho de 2021

Atividade sobre Romantismo a partir do poema "I Juca-Pirama", de Gonçalves Dias



Você vai ler, a seguir, dois trechos do poema épico "I-Juca-Pirama" (em tupi, "O que há de ser morto"), de Gonçalves Dias.
No poema, o último descendente da tribo tupi é feito prisioneiro pelos timbiras e é dado início ao ritual antropofágico. O guerreiro, antes de receber o golpe fatal, inicia seu canto de morte, no qual narra toda a sua bravura e revela que tem um pai cego e doente e pede para ser libertado a fim de cuidar dele. O cacique timbira lhe concede a liberdade, e o guerreiro promete voltar logo após a morte do pai. Quando parte e encontra o pai, o ancião percebe, pelo cheiro das tintas, que o filho fora preso para o sacrifício e decide levá-lo até os timbiras para que o ritual antropofágico fosse cumprido.

VIII
"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos chorasse?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.

"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz.
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
[...]

"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d'argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."

IX
Isto dizendo, o miserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservara,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho para
O grito que escutou é a voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
- Esse momento só vale apagar-lhe
Os tão compridos transes, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.

A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem.
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.

Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
- Basta! clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. -

O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."

1. As estrofes do canto VIII descrevem a reação do ancião tupi diante de seu filho e da tribo dos timbiras.
a. Qual é essa reação? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. Por que o pai reage dessa forma? Justifique sua resposta com elementos do texto.

2. Em outra parte do poema, no canto IV, no início do ritual antropofágico, o guerreiro tupi canta assim seu canto de morte:

"Então, forasteiro,
Cai prisioneiro
De um troço guerreiro
Com quem me encontrei:
O cru dessossego
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego,
Qual seja, - dizei!

Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou."

Logo em seguida, ele chora e pede que lhe poupem a vida. De acordo com os versos acima, qual foi o motivo de o guerreiro tupi ter pedido clemência aos timbiras? Justifique sua resposta com elementos do texto.

3. O canto IX retrata a atitude do jovem guerreiro tupi ao ver que o pai não tinha compreendido o motivo de seu retorno.
a. Qual é essa atitude? O que ela revela? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. No final do canto IX, o ancião chora e afirma: "Estas lágrimas, sim, que não desonram". Por que, nesse contexto, tais lágrimas não desonram?

c. Conclua: De acordo com o canto IX, pode-se dizer que o jovem guerreiro será levado ao sacrifício? Justifique sua resposta com elementos do texto.

4. A poesia de Gonçalves Dias expressa um novo ponto de vista a respeito do indígena. Diferentemente de toda a literatura anterior, em que prevalecia a visão que o branco tinha a respeito dos povos nativos, o poeta romântico buscou dar voz ao índio, mostrando-o pela perspectiva dos seus próprios valores e da sua própria cultura. De acordo com o poema em estudo, que valores o indígena associa ao ritual antropofágico?

5. Um dos traços importantes do Romantismo é o nacionalismo e a busca das raízes nacionais. Enquanto na Europa essas raízes foram buscadas na Idade Média, no Brasil, uma nação recém-independente, os primeiros poetas românticos elegeram o índio, a fauna e a flora como elementos fundadores de nossa nacionalidade.
a. No poema de Gonçalves Dias, o herói indígena, como representante de nossas raízes, destaca-se por quais valores e sentimentos?

b. A valorização da figura do índio pelos escritores românticos europeus, por influência de Rousseau, está presente também no Romantismo brasileiro. Identifique no herói do poema "I-Juca-Pirama" elementos relacionados ao mito do bom selvagem.


Fonte: Português Contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso

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