segunda-feira, 7 de junho de 2021

Atividade sobre "Diário de Campo" a partir de textos do antropólogo Darcy Ribeiro



O texto a seguir foi extraído dos diários de campo do antropólogo Darcy Ribeiro, que, entre os anos de 1949 e 1951, fez duas viagens de expedição a aldeias indígenas brasileiras situadas no Pará e no Maranhão.

20/nov./1949 - Berta, abro esse diário com seu nome. Dia a dia escreverei o que me suceder, sentindo que falo com você. Ponha sua mão na minha mão e venha comigo. Vamos percorrer mil quilômetros de picadas pela floresta, visitando as aldeias índias que nos esperam, para conviver com eles, vê-los viver, aprender com eles. [...] Saímos do Rio no dia 5, estivemos até o dia 17 em Belém, quando partimos para Bragança e depois, a 18, para Vizeu. Foram dias cheios de trabalho na preparação da pesquisa e também de amolações. Por isso mesmo só começo hoje meus registros. Somos três nesta expedição: eu mesmo, um linguista francês, Max Boudin, e um cinegrafista, Hein Foerthmann. Todos cheios de ânimo e de vontade de cumprir sua missão específica. Eu inclusive.
[...]

20/out./1951 - Parece que esgotei o repertório mítico dos narradores daqui. Sobretudo de Tanuru, Passarinho, o rapaz que veio conosco da última aldeia e que tem contado a maioria das lendas que ouvimos aqui. Ontem, me disse que não sabe nenhuma mais, já contou todas. Duvido muito, o pobre deve estar é cansado de tanto que falou comigo. Vou espremê-lo mais. Este Tanuru é outro caso extraordinário de um intelectual índio. [...] Domina, como ninguém, o patrimônio mítico de seu povo e é capaz de dizê-lo da forma mais clara e sensível. Aprendi com ele, com Anakanpuku e outros índios com quem trabalhei a apreciar e admirar esses intelectuais iletrados. [...] Intelectual, para mim, é, pois, aquele que melhor domina e expressa o saber de seu grupo. Saberes copiosíssimos, como o dos índios sobre a natureza e sobre o humano, ativados por uma curiosidade acesa de gente que se acha capaz de compreender e explicar tudo. São saberes mais modestos, fruto de uma lusitana tradição oral, vetusta, ou de heranças culturais de outras matrizes, como a de nossos sertanejos.

1. Na época em que o diário foi escrito, quais eram as tecnologias de comunicação?

2. Discuta com os colegas e o professor: Em geral, a quem se dirige um diário de campo?

3. Darcy Ribeiro inicia seu diário de campo dirigindo-se diretamente a uma interlocutora, Berta, antropóloga, com quem se casara no ano anterior. Levante hipóteses:
a. Com que finalidade o antropólogo utilizou essa estratégia?

b. Como essa estratégia podia contribuir para a escrita dos diários?

4. Segundo o texto:
a. Fazia quantos dias que Darcy Ribeiro estava forado Rio de Janeiro? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. Quais motivos o levaram a começar a escrever só depois desse tempo?

5. Nos dois trechos lidos, é possível identificar parte do planejamento e parte do andamento da pesquisa do antropólogo. Conforme o relato feito no diário:
a. Quais eram os principais objetivos do pesquisador?

b. Quem acompanhava o pesquisador na expedição?

c. No segundo trecho, o que comprova que o pesquisador estava conseguindo cumprir seus objetivos?

6. Darcy Ribeiro era um pesquisador e estudioso de povos indígenas brasileiros.
a. Como parece que era a relação do antropólogo com os índios com quem convivia? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. Por ser um acadêmico, Darcy Ribeiro tinha uma concepção de intelectual restrita? Justifique sua resposta com elementos do texto.


Fonte: Português Contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso

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