sexta-feira, 18 de junho de 2021

Atividade sobre colocação pronominal a partir de um poema de Carlos Drummond de Andrade



Você vai ler a seguir um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, autor estudado na seção Literatura deste capítulo.

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

1. Publicado na obra A rosa do povo (1945) e escrito em um momento histórico conturbado - ditadura Vargas no Brasil e Segunda Guerra Mundial -, o poema "A flor e a náusea" deixa transparecer o sentimento do eu lírico em relação a esse contexto. Com base nas três primeiras estrofes, responda:
a. Como se caracteriza o ambiente e o tempo em que vive o eu lírico? Justifique sua resposta com palavras, expressões e versos do texto.

b. Quais são os desejos do eu lírico nesse contexto? Justifique sua resposta com versos do texto.

2. Nas estrofes de 4 a 7, o eu lírico fala sobre si mesmo.
a. O que se sabe do eu lírico por meio desses versos?

b. Levante hipóteses: Essas características permitem associar o eu lírico a quem?

3. As três últimas estrofes falam sobre o nascimento de uma flor.
a. Levante hipóteses: Por que esse acontecimento é tratado como fora do comum no contexto do poema?

b. Como o eu lírico descreve a flor que nasceu? O que há de inesperado nessa descrição?

c. Quais sentimentos essa flor desperta no eu lírico? Justifique sua resposta com versos do poema.

d. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Qual sentido maior se pode atribuir ao nascimento dessa flor, levando em consideração todo o contexto de produção do poema? Indique o verso que resume essa ideia.

4. Há no poema diversos pronomes oblíquos átonos que acompanham verbos.
a. Reproduza a tabela a seguir em seu caderno, identifique essas ocorrências no poema e complete a tabela como no exemplo, de acordo com cada tipo de ocorrência.

Ênclise em início de frase ou depois de uma pausa

Próclise motivada por palavra atrativa

Casos que não se encaixam nas regras

b. Entre os casos que não se encaixam nas regras apontados por você no item anterior, sobressai a próclise ou a ênclise? Levante hipóteses: Por que isso ocorre?

c. Discuta com os colegas e o professor e conclua: Com base nas características da poesia modernista e especialmente da poesia de Drummond, o que justifica a forma como o poeta utiliza próclises e ênclises no poema em estudo?

5. Releia este verso:

"Em vão me tento explicar, os muros são surdos."

a. Levante hipóteses: Quem são os muros surdos?

b. Levante hipóteses: Por que foi utilizada essa colocação pronominal?

c. Como você falaria essa frase? Justifique sua resposta.


Fonte: Português: Linguagens

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