sábado, 5 de junho de 2021

Atividade sobre literatura africana e negro-brasileira a partir de poemas Agostinho Neto e Cuti



Mesmo estando a uma distância de milhares de quilômetros, escritores do Brasil e da África muitas vezes estabelecem um diálogo entre si, já que vivem ou viveram experiências semelhantes.
A seguir, você vai ler dois poemas: o primeiro é do poeta angolano Agostinho Neto (1922-1979). O segundo é de Cuti, pseudônimo de Luís Silva (1951), poeta da atualidade e militante da causa negra.

Texto 1 - Velho negro

Vendido
e transportado nas galeras
vergastado pelos homens
linchado nas grandes cidades
esbulhado até ao último tostão
humilhado até ao pó
sempre sempre vencido

É forçado a obedecer
a Deus e aos homens
perdeu-se

Perdeu a pátria
e a noção de ser

Reduzido a farrapo
macaquearam seus gestos e a sua alma
diferente

Velho farrapo
Negro
perdido no tempo
e dividido no espaço!

Ao passar de tanga
com o espírito bem escondido
no silencio das frases côncavas
murmuram eles:
pobre negro!

E os poetas dizem que são seus irmãos.


Texto 2 - Sou negro

Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!
Negro pronto contra o preconceito branco
O relacionamento manco
Negro no ódio com que retranco
Negro no meu riso branco
Negro no meu pranto
Negro e pronto!
Beiço
Pixaim
Abas largas meu nariz
Tudo isso sim
- Negro e pronto! -
Batuca em mim
Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto
E não me prego em ser preto
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco
Sim
Negro dentro e fora
Ritmo-sangue sem regra feita
Grito-negro-força
Contra grades contra forcas
Negro pronto
Negro e pronto
Negro sou!

1. No texto 1, o eu lírico se refere à figura de um "velho negro".
a. Qual é a diferença de sentido entre a expressão negro velho e velho negro?

b. Quem é o "velho negro" do poema? A expressão se refere a um único homem ou a mais de um? Justifique sua resposta.

c. De que época e lugar é o "velho negro"?

d. Como o "velho negro" é tratado em todos os lugares onde vive ou viveu?

e. Qual é a identidade cultural desse "velho negro"? Justifique sua resposta com elementos do texto.

2. Dê uma interpretação ao último verso do texto 1.

3. O texto 2 é introduzido pelos versos:

"Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Negro e pronto!"

a. Levante hipóteses e explique: O que seria um "negro com mas ou reticências"?

b. A expressão "Negro e pronto!" é empregada três vezes no poema. Que sentido ela assume no poema, levando em conta o ponto de exclamação e a repetição?

c. No poema, que diferença de sentido há entre "Negro e pronto!" e "Negro pronto"?

4. O poema apresenta forte musicalidade, determinada pelo ritmo, por rimas (internas e externas) e pelas aliterações.
a. Faça um levantamento das aliterações do poema.

b. Identifique rimas internas e externas no texto.

c. Que relação há entre os recursos sonoros do poema (aliterações, ritmo) e seu sentido mais geral?

5. Releia estes versos:

"Meu rosto
Belo novo contra o velho belo imposto
[...]
Negro pronto
Contra tudo o que costuma me pintar de sujo
Ou que tenta me pintar de branco"

a. Que novo conceito de belo o texto apresenta? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. Interprete os dois últimos versos desse trecho.

6. Compare os dois textos e aponte aspectos comuns entre eles quanto à abordagem do tema.


Fonte: Português Contemporâneo: Diálogo, Reflexão e Uso

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