domingo, 30 de maio de 2021

Atividade sobre Modernismo a partir de dois poemas de Vinícius de Morais



Você vai ler, a seguir, dois poemas de Vinícius de Morais: "Pátria minha" e "Soneto de separação". O primeiro foi incluído na Antologia poética publicada em 1954, e o segundo, na obra Poemas, sonetos e baladas, publicada em 1946.

Texto 1 - Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
[...]

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

Texto 2 - Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

1. Na primeira estrofe de "Pátria minha", o eu lírico compara a pátria a uma criança dormindo. O que há em comum entre os elementos dessa comparação?

2. O eu lírico do texto 1 se refere à pátria por meio de um conjunto de metáforas, como "fonte de mel", "bicho triste", "desolação de caminhos", "terra sedenta", "grande rio secular", "ilha de ternura". Que visão ele revela ter sobre a pátria, por meio dessas metáforas?

3. Em alguns trechos, o poema "Pátria minha" estabelece uma relação intertextual com o Hino Nacional.
a. Identifique esses trechos.

b. A apropriação do discurso oficial sobre a pátria, nesse caso, confirma-o ou nega-o? Justifique sua resposta.

4. Releia a última estrofe do poema "Pátria minha".
a. Explique a formação e o sentido do neologismo avigrama.

b. Por que o eu lírico chama a cotovia e o rouxinol, se é o sabiá que vai levar o avigrama?

c. Com que outro poema de exílio "Pátria minha" estabelece uma relação intertextual? Que palavra dessa estrofe explicita essa relação?

d. Geralmente, a voz que fala nos poemas é a do eu lírico, que nem sempre corresponde à voz do próprio poeta. Essa simulação poética também se verifica no poema "Pátria minha"? Justifique com elementos dessa estrofe.

5. Como o nome sugere, o "Soneto de separação" tem como tema a separação. De que tipo de separação trata o poema?

6. As figuras de linguagem cumprem um importante papel na construção do poema.
a. Identifique a figura de linguagem que se verifica nestes pares de palavras:
- riso/pranto
- bocas unidas/espuma
- mãos espalmadas/espanto
- calma/vento

b. Como essa figura de linguagem expressa o drama que o eu lírico vive com a separação?

c. A repetição constante da expressão de repente constitui uma anáfora. Que efeito de sentido é criado por essa anáfora, considerando-se o sentido global do texto?

7. O hipérbato ou inversão é outra figura de linguagem que ocorre com frequência no poema.
a. Coloque na ordem direta os seguintes versos do poema, desfazendo os hipérbatos.

- "De repente do riso fez-se o pranto"

- "De repente da calma fez-se o vento"

- "Que dos olhos desfez a última chama"

b. Levante hipóteses: Que relação há entre as inversões sintáticas nos versos e o conteúdo do poema?

8. Por meio de imagens, o eu lírico consegue transmitir os sentimentos decorrentes da separação, ao mesmo tempo que faz uma espécie de balanço da vida. Responda, justificando suas respostas com palavras ou expressões do texto:
a. Que sentimentos ele revela ter nesse momento?

b. Que perspectiva o eu lírico tem para sua vida?

9. Observe e compare, do ponto de vista formal, os dois poemas de Vinícius de Morais.
a. Qual deles adota uma forma convencional, com versos regulares? Qual adota uma forma livre, com versos livres?

b. Qual dos dois poemas tem uma linguagem mais elevada? Em qual deles a linguagem é mais simples e coloquial?

c. O que as respostas dos itens anteriores permitem concluir sobre a poe sia de Vinícius de Morais, do ponto de vista formal?


Fonte: Português: Linguagens

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