Texto 1 - Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
- "Passei o dia à toa, à toa!"
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa...
Texto 2 - Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes da vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Texto 3 - Nova poética
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.
1. Na primeira estrofe do texto 1, o verso "Passei o dia à toa, à toa!" faz uso de um recurso sonoro especial. Qual é esse recurso? Que relação ele tem com o conteúdo do poema?
2. A segunda estrofe do poema "Andorinha" está em oposição à primeira.
a. Que palavras ou expressões do poema constituem uma antítese?
b. Que sentido tem a expressão à toa para a andorinha? E para o eu lírico?
c. Que sentido produzem as reticências no último verso?
d. Se considerarmos a hipótese de que esse poema pode expressar sentimentos e vivências não apenas do eu lírico, mas também do próprio poeta (leia o boxe "Manuel Bandeira" na página anterior), como se poderia explicar o verso "Passei a vida à toa, à toa..."?
3. "Momento num café" retrata uma cena comum do cotidiano: a passagem de um enterro. Como se portam os fregueses do café quando passa o enterro? O que justifica esse comportamento?
4. A segunda estrofe do texto 2, porém, destaca uma atitude diferente de um dos clientes do café, estabelecendo uma oposição em relação à primeira estrofe.
a. Que palavra ou expressão dessa estrofe introduz a ideia de oposição?
b. Que palavra da segunda estrofe está em oposição à palavra maquinalmente, da primeira estrofe?
c. Por que esse cliente tem uma postura diferente?
d. Que visão ele tem da vida?
e. Que visão ele tem da morte?
5. O poema "Nova poética" lança a "teoria do poeta sórdido". Para explicar essa teoria, o eu lírico faz uma comparação.
a. Considerando a relação entre a poesia e os leitores, a que ele compara o poema e sua função?
b. Explique o verso "O poema deve ser como a nódoa no brim".
6. Na última estrofe do texto 3, o eu lírico afirma que "a poesia é orvalho".
a. Interprete essa metáfora.
b. Os poemas "Andorinha" e "Momento num café" estão mais para a "nódoa no brim" ou para o "orvalho"? Por quê?
7. Manuel Bandeira é considerado um mestre do verso livre, tipo de verso sem uma métrica predeterminada introduzido pelos modernistas. Observe o 5º e o 1Oº versos. O que justifica, no contexto, o emprego de versos tão longos?
8. Manuel Bandeira é um poeta especial em nossa literatura, pois consegue extrair reflexões profundas sobre a existência humana a partir de situações banais do cotidiano. Embora muitas vezes pareça falar de si mesmo, sua poesia geralmente alcança universalidade. Esse traço de sua poesia se verifica nos poemas lidos? Justifique sua resposta.
Fonte: Português: Linguagens
Especial: Semana de Arte de Moderna de 1922
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