terça-feira, 19 de maio de 2020

Atividade sobre o livro "Primeiras Estórias", de Guimarães Rosa




Leia o texto abaixo - um fragmento do livro "Primeiras Estórias", do escritor Guimarães Rosa - representante da Terceira Geração do Modernismo:

A terceira margem do rio

     Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente – minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.
     Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a ideia. [...] Nosso pai nada dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma de outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.
     Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: – “Cê vai, ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: – “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?” Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo – a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa. [...]
ROSA, J. G. Primeiras estórias. 1ª ed. especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. p. 77-78. Fragmento. 

# Questões:
1. De acordo com esse texto, o pai era um homem
A) ingênuo.
B) orgulhoso.
C) retraído.
D) rígido.
E) sonhador.

2. Essa história tem início quando
A) a canoa especial fica pronta.
B) a mãe fica contra a ideia do pai.
C) o filho pede para ir com o pai.
D) o pai manda fazer uma canoa.
E) o pai vai embora na canoa.

3. No trecho “E a canoa saiu se indo – a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.” (ℓ. 22-23), o recurso estilístico utilizado é
A) comparação.
B) exagero.
C) oposição de ideias.
D) personificação.
E) repetição de sons.

4. No trecho “Ele só retornou o olhar em mim,...” (ℓ. 20-21), o termo "Ele" se refere a
A) irmão.
B) menino.
C) pai.
D) remador.
E) rio.

5. Nesse texto, no trecho “... ralhava no diário com a gente...” (ℓ. 4-5), a expressão "ralhava no diário" significa que a mãe
A) brigava pelos direitos dos filhos.
B) cobrava dos filhos os deveres do dia a dia.
C) descrevia os acontecimentos do dia a dia.
D) pedia que os filhos contassem como foi o dia.
E) reclamava dos filhos com o pai.

6. No trecho “Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu...” (ℓ. 14), a expressão "Sem alegria nem cuidado" dá ideia de
A) causa.
B) finalidade.
C) lugar.
D) modo.
E) tempo.

7. De acordo com esse texto, a canoa teve de ser fabricada forte e resistente porque
A) a mãe era contra a sua construção.
B) deveria caber um remador.
C) era feita de pau de vinhático.
D) o pai era um homem sério e ordeiro.
E) precisava resistir à água por anos.

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