segunda-feira, 7 de março de 2022

Atividade a partir do texto "O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”", de Roberto DaMatta



Leria o texto a seguir, de Roberto DaMatta

No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”, ou seja, uma forma de conciliar todos os interesses, criando uma relação aceitável entre o solicitante, o funcionário autoridade e a lei universal. Geralmente, isso se dá quando as motivações profundas de ambas as partes são conhecidas; ou imediatamente, quando ambos descobrem um elo em comum banal (torcer pelo mesmo time) ou especial (um amigo comum, uma instituição pela qual ambos passaram ou o fato de se ter nascido na mesma cidade). A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta. Essa é a forma típica do “jeitinho”. Uma de suas primeiras regras é não usar o argumento igualmente autoritário, o que também pode ocorrer, mas que leva a um reforço da má vontade do funcionário. De fato, quando se deseja utilizar o argumento da autoridade contra o funcionário, o jeitinho é um ato de força que no Brasil é conhecido como o “Sabe com quem está falando?”, em que não se busca uma igualdade simpática ou uma relação contínua com o agente da lei atrás do balcão, mas uma hierarquização inapelável entre o usuário e o atendente. De modo que, diante do “não pode” do funcionário, encontra-se um “não pode do não pode” feito pela invocação do “Sabe com quem você está falando?”. De qualquer modo, um jeito foi dado. “Jeitinho” e “Você sabe com quem está falando?” são os dois polos de uma mesma situação. Um é um modo harmonioso de resolver a disputa; o outro, um modo conflituoso e direto de realizar a mesma coisa. O “jeitinho” tem muito de cantada, de harmonização de interesses opostos, tal como quando uma mulher encontra um homem e ambos, interessados num encontro romântico, devem discutir a forma que o encontro deverá assumir. O “Sabe com quem está falando?”, por seu lado, afirma um estilo em que a autoridade é reafirmada, mas com a indicação de que o sistema é escalonado e não tem uma finalidade muito certa ou precisa. Há sempre outra autoridade, ainda mais alta, a quem se poderá recorrer. E assim as cartas são lançadas.
(DAMATTA, Roberto. O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”. O que faz o brasil, Brasil?. Rio de Janeiro: Rocco, 1884. P79-89, (Adaptado).

# Questões:
1) Ao afirmar ‘No Brasil, entre o “pode” e o “não pode”, encontramos um “jeito”’, para a sustentação da sua tese o autor faz uso de duas estratégias argumentativas que podem ser identificadas como:
a) exemplificação e repetição de ideias.
b) postura objetiva e desconstrução de tese.
c) generalização e inclusão do emissor no discurso.
d) autoquestionamento e conformidade.

2) Ao estabelecer uma distinção entre o “Jeitinho” e o “Você sabe com quem está falando?”, o autor mostra que, em sua opinião, ambos são:
a) práticas que fazem uso da hierarquização como mecanismo de obtenção de benefícios.
b) formas de evidenciar uma crítica clara aos sistemas das instituições em geral.
c) meios regulamentados que solicitam a denúncia dos envolvidos nas práticas.
d) estratégias diferenciadas que visam a driblar regras ou mecanismos protocolares.
 
Considere o fragmento abaixo para responder às questões 3, 4 e 5 seguintes.
“A verdade é que a invocação da relação pessoal, da regionalidade, do gosto, da religião e de outros fatores externos àquela situação poderá provocar uma resolução satisfatória ou menos injusta.”

3) Em períodos mais longos, deve-se reforçar o cuidado para a análise de suas partes. Nesse sentido, percebesse que a segunda oração é subordinada à primeira e deve ser classificada como:
a) substantiva predicativa.
b) adverbial concessiva.
c) adjetiva restritiva.
d) adverbial causal.

4) A locução verbal destacada no trecho permite inferir, por parte do enunciador, uma expressão de:
a) possibilidade.
b) submissão.
c) desinteresse.
d) convicção.

5) Cumprem papel caracterizador, podendo ser classificados como adjetivos, todos os vocábulos abaixo, EXCETO:
a) “pessoal”.
b) “externos”.
c) “menos”.
d) “injusta”.

6) Em “ sempre outra autoridade, ainda mais alta,”, o emprego do singular na forma verbal em destaque deve-se:
a) à impessoalidade do verbo “haver” no contexto.
b) à concordância entre o verbo e o sujeito “autoridade”.
c) ao emprego do advérbio sempre com sentido atemporal.
d) ao sujeito desinencial subentendido pelo verbo “haver”.

7) Na última frase do texto, o autor faz uso de uma ideia que confere à conclusão um sentido figurado que deve
ser entendido como uma:
a) hipérbole.
b) metáfora.
c) antítese.
d) prosopopeia.

8) No fragmento “Um é um modo harmonioso de resolver a disputa; o outro, um modo conflituoso e direto de realizar a mesma coisa.”, o autor faz uso das construções em destaque que se encontram em paralelismo sintático. A estratégia coesiva ilustrada nesse procedimento é o emprego de:
a) um termo sinônimo, equivalente.
b) uma expressão de sentido mais abrangente.
c) um hipônimo de caráter mais específico.
d) uma nominalização de forma verbal.

9) No início do texto, o emprego da vírgula que segue expressão “No Brasil” deve ser justificado por tratar-se de:
a) uma oração intercalada.
b) um aposto ilustrativo de lugar.
c) um objeto anteposto ao verbo que complementa.
d) um adjunto adverbial deslocado da ordem direta.

10) No trecho “A verdade é que a invocação da relação pessoal”, aponta-se uma “verdade” que se propõe inquestionável. Esse sentido é atribuído em função do seguinte recurso linguístico:
a) a conjunção “que”.
b) a ausência de vírgulas.
c) o primeiro artigo definido.
d) a omissão do sujeito. 

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