sexta-feira, 16 de março de 2012

Questões do ENEM de 2005 a 2007



QUESTÃO 2 (ENEM 2005):
As dimensões continentais do Brasil são objeto de reflexões expressas em diferentes linguagens. Esse tema aparece no seguinte poema:

“(....)
Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?

Que tem se o quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
Junto formamos este assombro de misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal! (....)”
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo: Martins Editora, 1980.)

O texto poético ora reproduzido trata das diferenças brasileiras no âmbito:
A) étnico e religioso.
B) lingüístico e econômico.
C) racial e folclórico.
D) histórico e geográfico.
E) literário e popular.


Questão 3 (ENEM – 2006)
No romance “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:

Não se conformou: devia haver engano. (...) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria?
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não.
Graciliano Ramos. Vidas secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.

No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:
A) “Não se conformou: devia haver engano” (ℓ.1).
B) “e Fabiano perdeu os estribos” (ℓ.3).
C) “Passar a vida inteira assim no toco” (ℓ.4).
D) “entregando o que era dele de mão beijada!” (ℓ.4-5).
E) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou” (ℓ.11).
(ENEM 2005)
As questões 4 e 5 referem-se ao poema:

A DANÇA E A ALMA

A DANÇA? Não é movimento,
súbito gesto musical.
É concentração, num momento,
da humana graça natural.

No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança – não vento nos ramos:
seiva, força, perene estar.

Um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão
libertar-se por todo lado...

Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir à forma do ser,
por sobre o mistério das fábulas.
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)

Questão 4
A definição de dança, em linguagem de dicionário, que mais se aproxima do que está expresso no poema é:

A) a mais antiga das artes, servindo como elemento de comunicação e afirmação do homem em todos os momentos de sua existência.
B) a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites físicos, possibilitando ao homem a liberação de seu espírito.
C) a manifestação do ser humano, formada por uma seqüência de gestos, passos e movimentos desconcertados.
D) o conjunto organizado de movimentos do corpo, com ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos, cantos, emoções etc.
E) o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por conseqüência, ao seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura.

Questão 5
O poema “A Dança e a Alma” é construído com base em contrastes, como “movimento” e “concentração”. Em uma das estrofes, o termo que estabelece contraste com solo é:

A) éter. B) seiva. C) chão. D) paixão. E) ser.



Questão 6 (ENEM – 2006)
No poema “Procura da poesia", Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelângelo fazia com mármore. O fragmento abaixo exemplifica essa afirmação.

(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(...)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.

Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas:

A) a nostalgia do passado colonialista revisitado.
B) a preocupação com o engajamento político e social da literatura.
C) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos.
D) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética.
E) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria.


QUESTÃO 7 (ENEM 2006):

Erro de Português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de Sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

O primitivismo observável no poema acima, de Oswald de Andrade, caracteriza de forma marcante:

A) o regionalismo do Nordeste.
B) o concretismo paulista.
C) a poesia Pau-Brasil.
D) o simbolismo pré-modernista.
E) o tropicalismo baiano.

Questão 8 (ENEM-2007)

O Açúcar

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
[dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
(...)
Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar. Toda Poesia. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1980, p. 227-8.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e...

A) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o açúcar.
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se dissolve na boca.
C) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco, onde se produz o açúcar.
D) a beleza dos extensos canaviais que nascem no regaço do vale.
E) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas escuras.





(ENEM – 2006) Texto para as questões 9 e 10:

A linguagem
na ponta da língua
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a priminha.

O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para
lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

Questão 9
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas e variação de usos da linguagem em:
A) situações formais e informais.
B) diferentes regiões do país.
C) escolas literárias distintas.
D) textos técnicos e poéticos.
E) diferentes épocas.

Questão 10
No poema, a referência à variedade padrão da língua está expressa no seguinte trecho:
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1 e 2).
B) “A linguagem / na superfície estrelada de letras” (v.5 e 6).
C) “[a língua] em que pedia para ir lá fora” (v.14).
D) “[a língua] em que levava e dava pontapé” (v.15).
E) “[a língua] do namoro com a priminha” (v.17).


Questão 11 (ENEM – 2006)

Namorados
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época:
A) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.
B) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.
C) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
D) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.


Questão 12 (ENEM – 2007)

Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar constipação; ficando perrengue, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à botica para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, lombrigas (...)
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar.

O texto acima está escrito em linguagem de uma época passada. Observe uma outra versão, em linguagem atual.

Antigamente
Acontecia o indivíduo apanhar um resfriado; ficando mal, mandava o próprio chamar o doutor e, depois, ir à farmácia para aviar a receita, de cápsulas ou pílulas fedorentas. Doença nefasta era a tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, vermes (...)

Comparando-se esses dois textos, verifica-se que, na segunda versão, houve mudanças relativas a:
A) vocabulário.
B) construções sintáticas.
C) pontuação.
D) fonética.
E) regência verbal.
(ENEM – 2007) Textos para as questões 13 e 14:

O canto do guerreiro

Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou? Gonçalves Dias.

Macunaíma (Epílogo)
Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade.

Questão 13
A leitura comparativa dos dois textos acima indica que:
A) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heróica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
B) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil.
C) as perguntas “— Quem há, como eu sou?” (1.o texto) e “Quem podia saber do Herói?” (2.o texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira.
D) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil.
E) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.
Questão 14
Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que:
A) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto.
B) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal.
C) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena.
D) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais.
E) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro.

A Montanha Pulverizada

Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
— trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo a paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
Carlos Drummond de Andrade. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2000.

A situação poeticamente descrita acima sinaliza, do ponto de vista ambiental, para a necessidade de:
I - manter-se rigoroso controle sobre os processos de instalação de novas mineradoras.
II - criarem-se estratégias para reduzir o impacto ambiental no ambiente degradado.
III - reaproveitarem-se materiais, reduzindo-se a necessidade de extração de minérios.

É correto o que se afirma
A) apenas em I.
B) apenas em II.
C) apenas em I e II.
D) apenas em II e III.
E) em I, II e III. Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

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