Características do texto de divulgação científica:
a) texto expositivo;
b) finalidade: transmitir conhecimentos de natureza científica a um público o mais amplo possível;
c) estrutura: ideia principal (afirmação, conceito) / desenvolvido por meio de provas (exemplos, comparações, relações de efeito e causa, resultados de experiências, dados estatísticos) / conclusão;
d) linguagem clara, objetiva e geralmente impessoal;
e) emprega a variedade padrão da língua com a presença de termos e conceitos científicos de uma ou mais áreas do conhecimento, verbos predominantemente no presente do indicativo.
Leia o texto abaixo:
CONTROLE DO APETITE
Drauzio Varella
Até a segunda metade do século XX, a desnutrição foi nosso principal problema de saúde pública; hoje, é a obesidade. Cerca de 10% dos brasileiros adultos são obesos, e outros 30% estão acima do peso saudável. Portanto, cerca de 50 milhões de pessoas deveriam perder peso para evitar doenças como ataques cardíacos, derrames cerebrais, diabetes, reumatismos e alguns tipos de câncer.
Os sistemas biológicos que controlam a ingestão de alimentos são complexos e mal conhecidos. Durante os 5 milhões de anos da existência humana, a fome representou ameaça permanente à sobrevivência da espécie. Entre nossos antepassados, sobreviveram apenas aqueles capazes de estabelecer um equilíbrio rígido entre o número de calorias ingeridas e as necessidades energéticas do organismo.
Na evolução de nossa espécie, foram selecionados indivíduos cujos cérebros eram capazes de engendrar mecanismos biológicos altamente eficazes para evitar a perda de peso. Através deles, assim que o cérebro detecta diminuição dos depósitos de gordura, a energia que o corpo gasta para funcionar em repouso com a finalidade de exercer suas funções básicas (metabolismo basal) cai dramaticamente, ao mesmo tempo em que são enviados sinais irresistíveis para procurar e consumir alimentos.
Infelizmente, quando ocorre aumento de peso, os sinais opostos são quase imperceptíveis: não há grande aumento da energia gasta em repouso, a fome não diminui significativamente, nem surge estímulo para aumentar a atividade física; pelo contrário, tendemos a nos tornar mais sedentários.
Além disso, por razões mal compreendidas, o corpo tende a defender o peso mais alto que já atingiu. Para tristeza da mulher e do homem moderno, o organismo protege as reservas de gordura mesmo quando estocadas em níveis muito elevados. A mais insignificante tentativa de reduzi-las é interpretada pelo cérebro como ameaça à integridade física.
Ação da insulina e da lepitina
Para controlar o peso a longo prazo, o organismo produz dois hormônios que permitem avaliar os níveis dos depósitos de gordura e ajustar o apetite e a energia que deve ser gasta em função deles: a insulina e a lepitina.
O papel da ação cerebral da insulina no controle do peso foi descrito há quase 30 anos. Esse hormônio produzido pelo pâncreas age numa área do cérebro rica em receptores dotados da propriedade de reconhecê-lo. Em ratos, quando esses receptores são inativados, os animais se tornam obesos, imediatamente. Em seres humanos, enquanto esses receptores estão ativos, o cérebro mantém sua sensibilidade aos efeitos da insulina, e o apetite diminui; quando os receptores se tornam resistentes à ação da insulina, o peso aumenta.
Em 1994, a equipe de Jeffrey Friedman, da Universidade Rockfeller, trabalhando com ratos mutantes extremamente obesos, descobriu a lepitina, o hormônio que abriu campo para o estudo dos mecanismos moleculares do controle de peso. Friedman descobriu que a lepitina era uma proteína antiobesidade produzida pelo tecido gorduroso, que, ao ser administrada a ratos com excesso de peso, provocava emagrecimento graças a dois mecanismos: redução do apetite e aumento da energia gasta em repouso (metabolismo basal).
Apesar de terem sido descritos casos de obesidade humana por defeitos na produção de lepitina – portanto, passíveis de serem tratados com esse hormônio -, por razões ainda pouco claras, a maioria das pessoas obesas apresentam níveis até mais altos de lepitina, mas são resistentes às suas ações. Hoje, admite-se que a queda dos níveis de lepitina provocada pela redução dos depósitos de gordura, ao ser detectada pelo cérebro, provoca aumento do apetite e retardo do metabolismo basal. Mas, quando os depósitos de gordura aumentam, levando à maior produção de lepitina, o mecanismo oposto não é significativo: a partir de certos níveis de lepitina na circulação, o cérebro se torna resistente a ela.
Ao lado desses hormônios que controlam o apetite e o metabolismo a longo prazo, o organismo produz outros hormônios para controlar o apetite no dia-a-dia. O primeiro descrito foi a colecistoquinina, proteína que o intestino libera na corrente sanguínea para estimular o centro da saciedade existente no cérebro e impedir a ingestão exagerada de calorias.
Há quatro anos, pesquisadores japoneses descobriram a grelina, um potente estimulador do apetite na rotina diária. A grelina é o hormônio responsável pela fome que ataca quando chega a hora do almoço. Pesquisas mostram que os níveis de grelina na circulação aumentam uma a duas horas antes das principais refeições do dia e que voluntários, ao receber injeções de grelina, experimentam aumento significativo do apetite.
Para contrabalançar as ações promotoras de apetite desencadeadas pela grelina produzida quando o estômago fica vazio, a chegada de alimentos ao intestino provoca a liberação de um hormônio chamado PYY. Injeções desse hormônio em camundongos e voluntários humanos causam diminuição do apetite.
Esses hormônios controladores do apetite e do metabolismo a curto ou longo prazo agem predominantemente numa região do hipotálamo conhecida como núcleo arqueado, o centro no qual reside o controle-mestre dos sistemas regulatórios. Para o núcleo arqueado convergem dois tipos de neurônios que exercem ações opostas: estimulação e inibição do apetite.
A fome que sentimos resulta de um equilíbrio ajustado entre esses circuitos antagônicos, construídos e selecionados por nossos antepassados remotos com a finalidade de resistir à falta permanente de alimentos, numa época em que as refeições eram alternadas com longos períodos de jejum forçado. O que representou sabedoria do cérebro para enfrentar a penúria deu origem ao flagelo da obesidade em tempos de fartura.
(http://drauziovarella.com.br/obesidade/controle-do-apetite/)
Exercícios:
1. O texto "Controle de apetite" aborda um tema de natureza científica que certamente interessa a um grande número de pessoas.
a) Qual é o tema do texto?
b) Que outros assuntos você supõe que costumam ser abordados em textos de divulgação científica como esse?
2. Textos como o que você leu são chamados de textos de divulgação científica. Indique, entre os itens que seguem, aquele que traduz melhor a finalidade desse tipo de texto.
a) Ensinar como se faz um relatório científico.
b) Convencer o interlocutor do ponto de vista defendido pelo autor.
c) Expor um conteúdo de natureza científica.
d) Relatar experiências pessoais.
3. A estrutura de um texto de divulgação científica não é rígida, pois depende do assunto e de outros fatores da situação de produção, como: quem produz o texto, para quem, com que finalidade, em que veículo, em que momento histórico, etc. Apesar disso, o autor geralmente apresenta no primeiro ou no segundo parágrafo a ideia principal (uma afirmação, um conceito), e desenvolve nos parágrafos seguintes, por meio de exemplos e comparações, resultados objetivos de experiência, dados estatísticos, relações de causa e efeito, etc. No texto "Controle do apetite".
a) Qual é a ideia principal que o autor desenvolve?
b) Por que, segundo o autor, a obesidade constitui hoje, no Brasil, um problema de saúde pública?
4. De acordo com o texto, as pesquisas relativas ao estudo dos sistemas biológicos de animais mostram que, hoje, nosso organismo tem mecanismos eficientes de controle da obesidade? Justifique sua resposta.
5. É comum o texto de divulgação científica fazer uso de uma linguagem que inclui termos e conceitos científicos básicos.
a) Identifique no texto "Controle de apetite" palavras ou expressões próprias da linguagem científica.
b) A que área científica pertencem esses termos?
6. O texto foi publicado num jornal de grande circulação.
a) Levante hipóteses: Além do jornal, em que outros veículos o texto científico pode circular?
b) Tomando como base o texto lido, conclua: Qual é o perfil do leitor desse tipo de texto? Trata-se um cientista especialista no assunto abordado ou trata-se de um leitor comum, leigo?
7. Observe a linguagem do texto.
a) Que tempo e modo predominam entre as formas verbais utilizadas pelo autor?
b) Que variedade linguística foi empregada?
c) Considerando-se o assunto desenvolvido e o veículo em que o texto foi publicado, pode-se afirmar que esse nível de linguagem é adequado à situação? Por quê?
8. Quando produzimos um texto, podemos nos colocar nele de modo pessoal ou impessoal. No texto lido, predomina uma linguagem pessoal ou uma linguagem impessoal? Por quê?
9. Observa a conclusão do texto.
a) Em que parágrafo ela se situa?
b) A conclusão é coerente com a ideia principal do texto? Por quê?
10. Reúna-se com seus colegas e, juntos, respondam: Quais são as principais características do texto de divulgação científica?
(Cereja e Magalhães: Português: Linguagem)
Eu quero respostas dessas questões pf
ResponderExcluirpor favor, dá para passar as respostas dessas questões?
ResponderExcluirExcelente material. Peguei "emprestado" para trabalhar em sala de aula.
ResponderExcluirParabéns!